terça-feira, 13 de março de 2012

De louco, todo mundo tem um pouco

"Eu juro que é melhor / Não ser um normal / Se eu posso pensar / Que Deus sou eu..."

        "O Menino Maluquinho não era maluquinho, era feliz". Há tanto tempo não pensava nele, tem anos. Adorava suas histórias, mas pouco lembro sobre elas. É algo que me acontece com muitas das histórias que leio. Algumas ficam em minha mente, outras apenas a rondam. Mesmo aquelas que me marcam; lembro das ideias que as permeavam, mas não de fatos e personagens específicos. 

        Ao ouvir essa frase sobre o menino de Ziraldo, veio-me algo que, há muito, já sabia; "peraí, já ouvi isso antes". Mas, até então, não tinha podido compreender toda a sua amplitude e complexidade, todas as dobras por entre as quais a profundidade dessa afirmação vai se embrenhando. E não tinha como desdobrá-las, melhor compreendendo-as. A informação ficou guardada lá no fundo, no amontoado de coisas - experiências, sentimentos, sensações - que dá liga a quem eu sou. Curioso notar a forma como, hoje, isso falou comigo, com aspectos que nem notara fazerem parte de mim…

        Estou acostumada a, num primeiro momento, ser tachada como louca. Não louca de pedra, de maneira nenhuma, mas aquelas pessoas meio… maluquinhas, sabe? Meu pai, desde que comecei com essa história de querer ser bruxa, acha que eu dei uma pirada. Virei aprendiz de maluca, como ele gosta de dizer. A mestre? Minha mãe. Ainda bem que faço terapia! Senão, para acreditar que meu modo de ver o mundo é utópico, anárquico e um tanto romântico demais, faltaria pouco. Afinal, quem, em sã consciência, abandona uma faculdade de direito na metade e pega o dinheiro para passar um mês e meio caminhando pela Espanha, de St. Jean Pied de Port a Santiago de Compostela? Precisava loucamente me pensar! Muitos me diziam: "Que sonho, queria ter coragem. Você é muito maluca mesmo!". Sou não, juro. Busco apenas ser quem sou, da forma mais plena possível. Mas se essa busca pressupõe  uma compreensão, aos olhos comuns, um pouco embaçada, tudo bem. Aceito a condição. 

        Outro dia, conversando, entre gatos e flores, sobre questões que pairam a minha vida - as casas ocupadas do meu atual tabuleiro, e o posicionamento da minha pecinha e de todas as outras que jogam comigo nesta rodada - tomei consciência de uma necessidade cada vez maior que venho sentindo de falar sobre o que penso, o que sinto, de agir de acordo com meus desejos e vontades, aceitando as implicações que isso gera. Conclusão: "Sou maluca? Ok. Então fale comigo, troque, escute o que tenho a dizer e, por favor, diga-me algo". Por aí. A "Balada do Louco", da Rita Lee. No fundo, tudo se resume a isso… ser feliz.