terça-feira, 26 de junho de 2012

Sobre amor e solidão



            Neste dia, não fui à aula.

Fazia uma bela tarde de sol, e a casa estava vazia. Ninguém além dos gatos, nem o Moshe. Como eu gosto do silêncio! Na balbúrdia em que vivemos, muitas vezes até esqueço o prazer e a paz que ele me dá. Ficar quieta, calada. Sem vozes, música, carros... Apenas o som dos pássaros voando, o vento passando pelas árvores, o virar das páginas do livro, o palpitar da minha própria existência.
Estirei-me na piscina e ali fiquei, não sei dizer por quanto tempo, apenas sentindo o delicioso calor do sol do inverno, ativando todas as minhas células, energizando os meus chakras. Que delícia é estar só, eu e a natureza, eu e os gatos, eu e o Paulo.
Desde que me lembro, sempre senti uma necessidade de momentos apenas meus, mas vinha acompanhada de um medo profundo da solidão. Medo de ser abandonada, de não ser importante, de ser esquecida, sozinha. Precisava sentir que o estar só era uma escolha, não uma condição. E demorei para entender que não era bem assim...


A solidão é condição essencialmente humana. Nascemos sós e morremos sós, e durante o tempo em que aqui estamos – dotados dos incríveis cinco sentidos que nos proporcionam tanto prazer –, realizamos encontros e passamos por experiências  que nos vão construindo como os seres que somos. Vamos trazendo para o nosso campo aquilo que nos completa, e vamos deixando para trás o que não nos faz mais sentido.
Acontece que, nesse processo, muitas vezes nos apegamos à presença do outro, e nos deixamos esquecer do modo como chegamos e depois partiremos... nos acostumamos com a ideia de não estar tão sós assim, e a possibilidade de voltar a essa sensação primordial é um pouco assustadora. Mas quando ultrapassamos a primeira barreira do medo, depois de alguns passos no escuro, conseguimos vislumbrar uma primeira claridade logo adiante...
Quando deixamos de olhar para a nossa solidão a partir do medo e, ao invés disso, aceitamos a sua presença e a acolhemos como parte de nós, ela se torna única, pessoal e – pois é! – necessária. Aceitando-a como condição humana que é, inerente a todos nós, compreendemos que, por mais que cada um a sinta de uma forma particular, o que de mais profundo nos conecta uns aos outros é o saber que, mesmo sós, compartilhamos esse sentimento. E aí vem a ironia do Universo: o quão mais próximos podemos chegar de nós mesmos, o mais próximo podemos chegar do outro. E a solidão não é mais só, é compartilhada. A necessidade do outro é substituída pela necessidade de si, porque quando estamos conosco, estamos com o Todo.
Ao trilhar por esse caminho, vamos compreendendo, da própria experiência, que uma relação sincera com a nossa solidão elementar é o que nos dá a estabilidade necessária para vivermos no amor. Não é possível o auto amor sem a aceitação dessa condição básica, e não amando a si mesmo, não se é capaz de amar a nada de forma pura, sem cobranças, sem transferências...
A solidão é o isolamento essencial a que se refere Winnicott, o que nos sustenta diante da “montanha russa de sentimentos e sensações” a que o ímpeto celeste do amor nos move, elevando-nos à condição divina da existência. É o aspecto mais profundo de todas as nossas sombras que, aceito e compreendido, transforma-se na mais necessária ferramenta de auto conhecimento.


Mesmo agora, tendo entendido e vivenciado muito do que antes me era mistério, me pego ainda muitas vezes às voltas com a ansiedade gerada pelos meus medos, pela zona de penumbra que acompanha toda a luz. Mas é diferente; é ansiedade, não é angústia. E é leve, é pleno. Faz parte de mim...


terça-feira, 13 de março de 2012

De louco, todo mundo tem um pouco

"Eu juro que é melhor / Não ser um normal / Se eu posso pensar / Que Deus sou eu..."

        "O Menino Maluquinho não era maluquinho, era feliz". Há tanto tempo não pensava nele, tem anos. Adorava suas histórias, mas pouco lembro sobre elas. É algo que me acontece com muitas das histórias que leio. Algumas ficam em minha mente, outras apenas a rondam. Mesmo aquelas que me marcam; lembro das ideias que as permeavam, mas não de fatos e personagens específicos. 

        Ao ouvir essa frase sobre o menino de Ziraldo, veio-me algo que, há muito, já sabia; "peraí, já ouvi isso antes". Mas, até então, não tinha podido compreender toda a sua amplitude e complexidade, todas as dobras por entre as quais a profundidade dessa afirmação vai se embrenhando. E não tinha como desdobrá-las, melhor compreendendo-as. A informação ficou guardada lá no fundo, no amontoado de coisas - experiências, sentimentos, sensações - que dá liga a quem eu sou. Curioso notar a forma como, hoje, isso falou comigo, com aspectos que nem notara fazerem parte de mim…

        Estou acostumada a, num primeiro momento, ser tachada como louca. Não louca de pedra, de maneira nenhuma, mas aquelas pessoas meio… maluquinhas, sabe? Meu pai, desde que comecei com essa história de querer ser bruxa, acha que eu dei uma pirada. Virei aprendiz de maluca, como ele gosta de dizer. A mestre? Minha mãe. Ainda bem que faço terapia! Senão, para acreditar que meu modo de ver o mundo é utópico, anárquico e um tanto romântico demais, faltaria pouco. Afinal, quem, em sã consciência, abandona uma faculdade de direito na metade e pega o dinheiro para passar um mês e meio caminhando pela Espanha, de St. Jean Pied de Port a Santiago de Compostela? Precisava loucamente me pensar! Muitos me diziam: "Que sonho, queria ter coragem. Você é muito maluca mesmo!". Sou não, juro. Busco apenas ser quem sou, da forma mais plena possível. Mas se essa busca pressupõe  uma compreensão, aos olhos comuns, um pouco embaçada, tudo bem. Aceito a condição. 

        Outro dia, conversando, entre gatos e flores, sobre questões que pairam a minha vida - as casas ocupadas do meu atual tabuleiro, e o posicionamento da minha pecinha e de todas as outras que jogam comigo nesta rodada - tomei consciência de uma necessidade cada vez maior que venho sentindo de falar sobre o que penso, o que sinto, de agir de acordo com meus desejos e vontades, aceitando as implicações que isso gera. Conclusão: "Sou maluca? Ok. Então fale comigo, troque, escute o que tenho a dizer e, por favor, diga-me algo". Por aí. A "Balada do Louco", da Rita Lee. No fundo, tudo se resume a isso… ser feliz. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma torre em minha vida


(Por Maria Pitanga)

É nos períodos de transição, tantas vezes tão duros e aparentemente crueis, que melhor podemos notar como anda a balança interna dos nossos corpos sutis, o equilíbrio das energias que nos forma, sustenta e move adiante no caminho do meio, nem muito pra lá, nem muito pra cá. É nestes períodos que se faz necessário, mais do que nunca, preenchermo-nos de nós mesmo, completando nossos vazios com energias que nos falem, nos elevem, que nos guiem ao nosso ápice. Como me foi citado recentemente, "os buracos da alma não se preenchem com nada que não seja a realização de si mesmo". E é por aí… 

Apenas a título de curiosidade, como seres multidimensionais, nos manifestamos em vários planos de realidade, possuindo portanto um conglomerado de corpos - mental, emocional, psíquico, espiritual - retratado no corpo físico. Tudo conectado. Esses corpos, se não em sintonia e equilíbrio, nos momentos de instabilidade e mudanças externas, nos levam a perder-nos dentro de nós mesmos, nos vãos entre uma coisa e outra, entre o que não é mais e o que há de ser, mas ainda não o é. 

É quando abandonamos antigos padrões, formas, ideias e preconceitos que nos vemos diante do maior dentre todos os obstáculos: como saber o que sou, se já não sou mais o que era, e nem ainda o que hei de ser? É o momento de parar, refletir, analisar. É o momento de buscar exatamente em que ponto nos encontramos no nosso próprio labirinto, a quantas andam nosso autoconhecimento, nosso auto-amor, nossa autoconfiança. É o momento de descobrir "o que nos sobra além das coisas casuais". Tomar consciência das faltas, dos vazios, dos medos e inseguranças. E preenchê-los, transmutá-los, transformá-los em aprendizado e crescimento. 

Assim, preenchendo-nos pouco a pouco de nós mesmos, a cada vez que as estruturas externas em que nos sustentamos não mais existirem, e tivermos que nos deparar com o que de fato há lá no âmago de nós mesmos, não nos restará dúvidas de que, lá no fundo, somos mantidos por um fio de prata que nos conecta, e este, apesar de muitas vezes obscurecido por um oceano de sombras, não se deixando ver assim tão fácil, está cada vez mais próximo de ser acessado… 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Jogando dados com o Universo

(poeme-se.tumblr.com)



Cá pensando com meus botões, arrisco dizer que o que de mais importante aprendi nesta minha existência, até hoje, foi a fazer escolhas. Este aprendizado, mais do que essencial, é necessário, indispensável ao nosso desenvolvimento como seres humanos. No meio em que vivemos, somos acostumados, desde cedo, a ter tudo. O universo, abundante como é, nos oferece um leque de possibilidades ao alcance das mãos, inúmeras tão atraentes que nos perdemos diante da ideia de escolher um só caminho. 

Na cultura do ter, facilmente trocamos a qualidade pela quantidade; o amor pelo prazer;  o profundo pelo superficial. Acabamos nos perdendo no mar de tudo aquilo que pode ser, deixando passar o que realmente é. Dentre tudo o que queremos, por que decidirmos por certas coisas e não outras? Por que não experimentarmos tudo ao mesmo tempo? Simples. Porque se assim o fizermos, no fundo, não experimentamos nada. Se misturamos todas as cores da paleta, obtemos um tom amarronzado, meio xoxo, que sombreia a luminosidade de cada cor na sua unidade; e ao invés de brincarmos com a ternura do azul, a vibração do vermelho, a luz do amarelo ou o fogo do laranja, nos contentamos com aquela cor de burro quando foge, que não fede nem cheira, não é bela nem feia. 

É preciso entender que, dentre tudo o que podemos querer, há coisas que queremos mais do que outras, há coisas que para um determinado ciclo são mais importantes do que outras, há coisas que, de acordo com a direção que queremos dar às nossas vidas, são mais construtivas do que outras.  E para nos aprofundarmos nessas coisas, para de fato apreendermos tudo o que cada experiência em potencial tem para nos oferecer, em termos de vivências, sensações e aprendizados, precisamos focar, direcionar a energia para um determinado caminho e abrir mão dos outros possíveis. No momento em que aceitamos que não podemos ter tudo, é que nos permitimos viver tudo o que temos. E aí, sim, está o verdadeiro brilho da vida. Aí nos entregamos aos bons e profundos encontros, em que nos conhecemos e desenvolvemos como pessoas, seres de amor que somos. Aí alcançamos a completude, a sensação de preenchimento do vazio que nos atormenta, o vazio da busca por algo que, muitas vezes, nem mesmo sabemos o que é. 

E para sabermos aquilo que realmente queremos, aquilo que de fato acrescenta à nossa alma, é preciso olhar para dentro, voltar-se ao âmago do nosso ser, e deixar fluir a luz, deixar sentir a cadência do coração, deixar falar a intuição. As nossas águas internas se guiarão pela correnteza da nossa existência, levando-nos ao nosso destino. Aí, poderemos fazer escolhas. Aí, seremos capazes de nos desfazer do medo de perder aquilo de que se abre mão. Aí, estaremos aptos a jogar nossos desejos conscientes na teia do Universo, e abrir mão dos resultados, certos de que a vida é o instante presente, e que teremos exatamente aquilo que precisamos. 

Particularmente, creio que não perdemos o que nunca tivemos, e nem temos tudo o que queremos. Melhor, então, termos tudo o que temos, sermos tudo o que somos, e desfrutarmos das nossas escolhas mais sinceras como o que de mais positivo podemos fazer por nós mesmo. Trata-se, no fundo, de ser, na nossa forma mais plena, livre, leve. Fluir. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O dever de sonhar




"Eu tenho um dever / Que é o dever de sonhar / E sonhar sempre" 
(Fernando Pessoa)



O que seria de nós mortais sem nossos sonhos? Esses fragmentos de imaginação que nos levam além de nossos horizontes palpáveis… Sonhando nos permitimos ser, agir, fazer de modos e formas quotidianamente inimagináveis, ou se imagináveis, improváveis. Expandimos nossos corpos, ampliamos nossos sentidos. Incorporamos novas possibilidades, tomamos direções irretornáveis. Há passos dados que, por mais que se tente, nota-se ser impossível voltar atrás. Como já dizia Einstein, "a mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original". 

Devemos, então, sonhar alto, pois o tamanho das nossas expectativas é o tamanho dos nossos limites. Sonhar é visualizar, e visualizar é transformar. Teoria do efeito borboleta, sabe? O bater das asas de uma borboleta no Brasil pode causar um furacão na Australia. É por aí… O que fazemos hoje, gera, necessariamente, efeitos amanhã; o contexto que criamos, é o contexto em que vivemos. E por mais que, num primeiro momento, possamos pensar que não haja uma cadência automática entre uma coisa e outra, sendo estas intercaladas por fatores externos, estes são diretamente influenciados pela forma como agimos. Para ir ainda mais longe, pela forma como pensamos. Não tem como fugir. 

Portanto, que tal permitirmo-nos ampliar nossa consciência, indo além dos nossos limites? Mergulhar de braços abertos no mar dos nossos desejos e vontades, sonhar com a leveza com que desejamos viver, plasmar no cosmo nosso universo pessoal, dando o primeiro passo - o interno - na realização dos nossos sonhos; combatendo, de dentro para fora, a "normalidade" da vida que virou loucura…

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Do latim, unitas

Passamos agora por um momento de enormes transformações, quando devemos reaprender valores há muito esquecidos ou deixados de lado. Está mais do que na hora de aceitarmos a nós mesmos como somos, conscientes de nossos vícios e virtudes, de nossos defeitos e qualidades. Precisamos entender que somos únicos, cada um na sua jornada, cada um com seu aprendizado e suas necessidades. E é esta unicidade que precisa, mais do que nunca, ser respeitada. É nela que está a beleza da vida, dos ciclos, do vai e vem da maré do Universo. É a unicidade de cada ser que gera a multiplicidade do nosso planeta. 

Cada um deve buscar ser o melhor que puder, dentro da sua natureza, das suas condições e possibilidades. Encontrando a nós mesmos, encontramos a Deus. E encontrando a Deus, podemos enfim encontrar aos outros, e com eles crescer, produzir, reproduzir. Na teia em que vivemos, cada fio é essencial, mas deve estar inteiro. De que adiantaria um fio partido? 

Por isso, busque a si mesmo, volte-se para dentro e descubra o que fala a sua alma, o que sente, o que deseja, o que ama. Esteja em contato com a natureza, com os animais, com a vida. Observe a perfeição do Universo, e sinta a paz que flui por todo o seu ser ao ver um pássaro no ar, um peixe no mar, um cavalo galopar… Sinta o calor do sol, a umidade da chuva, o frescor do mar e dos rios, a textura da terra aos seus pés. Sinta-se flutuar com o vento que bate, sorrir com o sorriso que se abre. Sinta amor por todos os seres, vivos ou mortos. Acima de tudo, sinta amor por si mesmo. Apenas amando-se, é possível amar. Apenas aceitando-se, é possível aceitar. Apenas respeitando-se, é possível respeitar. Assuma a responsabilidade pela sua vida, pelos seus atos e palavras. E cuide de tudo aquilo que faz, diz ou pensa; é tudo energia. Transmute o negativo em positivo, inverta os pólos da sua vida, permita-se sacudir, bagunçar. É a única forma de saber o que há dentro de você. 

Conscientize-se, ilumine-se, regozija-se!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

No lugar de paredes, portais


Como já disse muito sabiamente Paulo Coelho, "escrever é um ato de valentia". É compartilhar seus sentimentos, sua angústias, seus medos e desejos. É compartilhar percepções, ideias, sonhos e frustrações. É abrir a alma àqueles que o lêem, mostrando-se por detrás dos véus que encobrem todo ser. É deixar de lado a timidez, o medo do fracasso e da vergonha, colocando-se de peito aberto diante da multidão, permitindo que te leiam tal como és. Que coragem!


Só de pensar em sentar e escrever, no intuito de publicar o resultado, me dá um frio na espinha, vem aquela insegurança cretina sobre ser capaz de fazer isso. E o sendo, sobre a utilidade de fazê-lo. Por que alguém leria aquilo que escrevo? Tem tanta gente boa por aí, por que os meus textos, minhas ideias e questões seriam interessantes a alguém? Mais além, a que almas falaria a minha alma?


É nessas horas em que me deparo com a minha pior inimiga: eu mesma. Minha crítica mordaz se aplica a mim mesma, e o feitiço vira contra o feiticeiro. Quem critica, não cria. Aí pronto, bate o bloqueio, resultado do auto boicote. Que horror! Por que alguém faria isso consigo mesmo? Freud provavelmente explica… Agimos de formas muitas vezes incompreensíveis, carentes de sentido ou razão. E é preciso voltar-se para dentro de si, buscando em que buracos residem as travas que impedem o avanço, aquelas poeiras que jogamos para debaixo dos tapetes internos, esperando não ter de lidar com elas.


Entendido que preciso abrir passagens nas muralhas que eu mesma criei para proteger meu mundo, decidi: vou criar um blog. Nele, posso publicar minhas ideias, meus escritos. Posso abrir as janelas da minha alma a quem tenha comigo a trocar. Um primeiro passo numa nova direção - e como bem vivenciei nos últimos meses, a caminhada se faz no primeiro passo dado. Decisão tomada, a procrastinação. Não sei mexer num blog. Que título dar a ele? O que escreveria, afinal? Blá, blá, blá. Mera enrolação, puro medo de começar. Na maioria das vezes, o primeiro passo é o mais difícil.


Cá estou, então. Blog criado, primeiro texto escrito. Agora, só falta publicar. E lá vou eu, botar a cara a tapa. Sem mais, mais.